terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Roberto Menescal

   Roberto Menescal Batalha (Vitoria, 25 de outubro de 1939). Instrumentista (violonista), arranjador, compositor, produtor musical.
   Criado em Copacabana, Rio de Janeiro, teve suas primeiras orientações musicais em 1950, ao estudar piano com sua tia, Irma Menescal. Em 1954 ouviu pela primeira vez o som de um violão, decidindo-se definitivamente por este instrumento, iniciou-se como autodidata e depois teve aulas com Edinho, do trio     Irakitan. Estudou, harmonia e contraponto, com os maestros Guerra Peixe e Moacir Santos.
   Iniciou sua carreira profissional em 1957, acompanhando a cantora Sylvinha Telles, com a qual realizou turnê de shows por todo país. Foi um dos fundadores do movimento bossa nova e professor de nara leão, de quem se tornou amigo e passou a organizar com ela encontros para reunir a turma no apartamento da cantora, na Avenida Atlântica, em Copacabana. 
   Os encontros reuniam, toda noite, aqueles que seriam os principais nomes da bossa nova, compositores como: Tom Jobim, Carlos Lyra, Vinícius de Moraes, Ronaldo Bôscoli, e outros, Nara Leão foi escolhida a "musa da bossa nova". Eles foram fazendo músicas que se tornaram hinos do movimento e da própria música brasileira.
   Em 1958, abriu uma academia de violão no bairro de Copacabana (RJ), em sociedade com Carlos Lyra, também no mesmo ano formou, juntamente com Luiz Carlos Vinha, Bebeto, Henrique e João Mário, o conjunto Roberto Menescal, com o qual atuou com diversos artista como Sylvinha Telles, Maysa, Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi, Aracy de Almeida e Billy Blanco, entre outros. Ainda nesse ano, apresentou-se, ao lado de Sylvinha Telles, Carlos Lyra e vários outros artistas, no clube Hebraica, em show considerado um dos primeiros registros da bossa nova.
   Em 1959, participou do I Festival de Samba-Session, realizado no Teatro de Arena da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, teve pela primeira vez registrada uma canção de sua autoria, "Jura de pombo" (c/Ronaldo Bôscoli) http://www.youtube.com/watch?v=NzskC9NbfBo, em disco de Alaíde Costa.
   No início da década de 1960, destacou-se como compositor, criou canções que hoje são consideradas hinos da bossa nova e da própria música popular, com sua música "O barquinho" (c/ Ronaldo Bôscoli) http://www.youtube.com/watch?v=hrrmxFKl_a0, gravada por Maysa, Pery Ribeiro, Paulinho Nogueira e vários outros intérpretes. Essa canção, emblemática em sua carreira, tornou-se um clássico da bossa nova, ao lado de outras de sua sua parceria com Ronaldo Bôscoli, como " Ah, se eu pudesse" http://www.youtube.com/watch?v=joXWkalvnBU, "Errinho à tôa http://www.youtube.com/watch?v=srRZwc6rPUQ" , "Nós e o mar"  http://www.youtube.com/watch?v=_irRr_qsf4w , "Rio" http://www.youtube.com/watch?v=d7LbG_ExRVk , "Você" http://www.youtube.com/watch?v=vUo1Q7XQiqg e "Vagamente" http://www.youtube.com/watch?v=5FGzNC3u4ys, pra citar algumas. As canções quase sempre apresentam o mar como temática.
   Em 1962, acompanhou Maysa em turnê pela Argentina. Com seu conjunto, foi contratado pela TV Rio, ainda nesse ano, para acompanhar cantores em programas da emissora, trabalho que exerceu durante dois anos. Participou, ainda em 1962, do histórico Festival de Bossa Nova, realizado no Carnegie Hall de Nova York (EUA), ao lado de vários artistas como Tom Jobim, Carlos Lyra, Sérgio Ricardo, Chico Feitosa e outros.
   Lançou, na década de 1960, os LPs "Bossa session" (1964), com Sylvinha Telles e Lúcio Alves, "Bossa nova - Roberto Menescal e seu Conjunto" (1966), "A bossa nova de Roberto Menescal" (1968) e "O Conjunto de Roberto Menescal" (1969).
   De 1964 a 1968, atuou com arranjador, escrevendo para orquestras. A convite de André Midani, começou a trabalhar como produtor independente e arranjador na PolyGram. (atualmente Universal Music). Em 1968, apresentou-se, com Elis Regina, no Mercado Internacional de Disco e Editores Musicais (Midem), realizado em Cannes (França) e em seguida excursionou com esse show por toda Europa.
   Assumiu, em 1970, a direção artística da gravadora PolyGram. Nessa função, foi responsável por discos de artístas como Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia, MPB-4, Quarteto em Cy, Jorge Ben  (Jorge Benjo) e vários outros.
   Como instrumentista, atuou em gravações com Sylvinha teles, Jair Rodrigues, Elis Regina, Gal Costa, Lúcio Alves, Beht Carvalho, Maysa, Claudette Soares e Nara Leão, entre outros.
   Como compositor, fez trilhas sonoras para várias novelas. Também compôs  para o cinema,  com participação nas trilhas sonoras dos filmes "Bye bye Brasil" http://www.youtube.com/watch?v=1HnAs3aQalI, para o qual compôs a música-título (c/ Chico Buarque) e "Joana Francesa", ambos de Caca Diégues, além de "Vai trabalhar vagabundo" de Hugo Carvana.
   Em 1985, retomou sua carreira de instrumentista, acompanhando Nara Leão em apresentações no Brasil e no exterior. Ainda nesse ano, lançou, com a cantora, o LP "Um cantinho, um violão - Nara leão e Roberto Menescal". O disco foi lançado no Japão.
   Em 1986, decidiu deixar o cargo de diretor artístico da PolyGram para dedicar-se exclusivamente à sua carreira de violonista, arranjador e compositor.
   No início da década de 1990, gravou os discos "Roberto Menescal" (1991), "Ditos & Feitos" (1992) e, com Wanda Sá, "eu e a música" (1995).
   Fundou, em 1997, a produtora e gravadora Albatroz. Nesse ano, apresentou-se no Mistura Fina (RJ), ao lado de Wanda Sá e Miéle.
   Lançou, em 1998, o CD "Estrada Tokyo-Rio", com Wanda Sá,e , dois anos depois, o CD "Bossa evergreen".
   Em 2001, participou, ao lado de Marcos Valle, Wanda Sá e Danilo Caymmi, do Fare Festival, realizado em Paiva (Itália) pela Societá dell'Academia, em colaboração com a prefeitura da cidade.. Nesse mesmo ano, gravou, com Wanda Sá e Marcos Valle, o CD "Bossa entre amigos". Ainda em 2001, gravou, com o grupo Bossacucanova, o CD "Brasilidade".
    Em 2003, lançou, com Cris Delanno, o CD "Eu e Cris"
   Em 2005, estreou o documentário "Coisa mais linda" - "Histórias e casos da bossa nova", de Paulo Thiago, que contou com sua participação, ao lado de Carlos Lyra, na condução da narrativa. Também nesse ano, gravou, com Wanda Sá, o CD "Swingueira" .
   Em 2007, lançou ao lado de Wanda Sá o DVD "Swingueira". No dia 20 de março desse mesmo ano, foi homenageado pelo instituto Cultural Cravo Albin na série "Sarau da Pedra".No evento, foi afixado no Mural da Música do instituto, diante da presença de várias personalidades da cena cultural carioca, uma placa com seu nome, a ele dedicada pela relevância de sua obra musical.
   Em 2008, participou, como instrumentista e co-diretor musical, do espetáculo "Bossa nova 50 anos". realizado na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro", show em comemoração aos 50 ano da bossa nova e também celebrando o aniversário da cidade do Rio de Janeiro. Também nesse mesmo ano, lançou, com João    Donato, Carlos Lyra e Marcos Valle, o CD "Os Bossa Nova" uma coletânea de sucessos da bossa nova,, contendo duas canções suas em parceria com Ronaldo Bôscoli: "Vagamente" e "Balansamba" .
   Em 2010, lançou, em parceria com Wanda Sá, o CD "Declarações". O CD teve show de lançamento no Espaço Tom Jobim (RJ). Nesse mesmo ano, foi lançado o livro "O Barquinho vai... - Roberto Menescal e suas histórias" (Irmãos Vitale), de autoria de Bruna Fonte, com noite de autógrafos na Modern Sound (RJ).
   Em 2011 lançou com Andy Sammers, o DVD "United Kingdom of Ipanema". Nesse mesmo ano, numa parceria do Instituto Cultural Cravo Albin com o Selo áudio restaurado por Marcelo Fróes da coleção de oito LPs da série homônima produzida por Ricardo Cravo Albin, e, 1975, com gravações raras dos programas radiofônicos "MPB 100 ao vivo" realizadas no auditório da Rádio MEC, em 1974 e 1975. O compositor participou do volume 6 da caixa, com sua canção "O barquinho" (c/Ronaldo Bôscoli), na voz de Alaíde Costa. Apresentou-se, ainda m 2011, no espaço Oi Futuro (RJ), pelo projeto "A Bossa do Samba", concebido e dirigido por Solange Kafuri.

                                                                                        Por Teo Miro

Fontes:
Albin, Ricardo Cravo. "Dicionário Houaiss Ilustrado [da] Música Popular Brasileira.
Coleção Folha 50 Anos de Bossa Nova
Biografia de Roberto Menescal para o Museu da Televisão Brasileira


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Tom Jobim (A trajetória do mestre)

   Antonio Carlos Jobim (25-1-1927 / 8-12-1994), foi testemunha e (principalmente) personagem de substanciais mudanças em nossa música popular, a partir do bairro onde morou desde os quatro anos de idade, Ipanema no  Rio de Janeiro, Quando começou a estudar piano, em 1941, com o professor Has Joachim Koellreutter.
    O grande êmulo da música popular brasileira era o carnaval (sambas e marchas, especialmente) e a chamada música de meio de ano, com um repertório que ia das Valsas e dos samba-canções, cantados por por Orlando Silva, Sílvio Caldas e Francisco Alves, até a música junina. O rádio começava a intensificar a transmissão de músicas norte-americanas, que aqui chegavam estimuladas pelo cinema, e, na música popular brasileira, eram poucas as tentativas de desviá-las por outro caminho qualquer. A grande novidade eram os sambas orquestrados, graças ao exito de Aquarela do Brasil de Ary Barro, gravada dois anos antes, com uma orquestração realmente inovadora de Radamés Gnattali.
   Observa-se uma certa ebulição na música popular brasileira em 1946, ano em que Tom Jobim passou para a faculdade de Arquitetura, onde permaneceu durante apenas um ano, decidindo-se, aí, sim por dedicar-se inteiramente à música. Em junho a gravadora Continental lançaria um disco destinado a obter grande repercução: o samba-canção Copacabana, de João de Barros e Alberto Ribeiro, cantado por Dick Farney. Era uma obra que acabou abrindo um novo caminho na música popular brasileira e que continha ingredientes claramente colhidos da música norte-americana.
   Criado em 1944, Copacabana foi composto para atender a um pedido do editor norte-americano Wallace Downey para que joão de Barros e Alberto Ribeiro fizessem uma música para um novo night-club que seria inaugurado, dali a alguns dias, em Nova Iorque, chamado Copacabana. A música não foi criada a tempo de atender ao pedido de Downey. Em 1946 João de Barros, diretor artístico da gravadora Continental, ofereceu a música a um jovem cantor Fanésio Dutra e Silva, que adota o pseudônimo de Dick Farney quando pretendia fazer carreira de cantor nos EUA. A música obteve grande êxito e criou condições necessárias para que outros compositores fizessem um tipo de música que recebeu a classificação de samba moderno e que, sem dúvida, influenciaria claramente o gosto musical de Antonio Carlos Jobim.
   Ao decidir trocar a arquitetura pela música, encontrou sérias resistências familiares. A começar pela mãe, dona Nilza Brasileiro de Almeida Jobim que temia que o filho, exercendo a profissão de músico -e, mais grave, à noite -, acabasse tuberculoso, como tantos outros que misturavam trabalho com boêmia. Quem o apoiou, logo de saída, foi o seu padrasto, Celso Frota Pessoa ("o pai que conheci", segundo Tom, que perdera o verdadeiro pai, Jorge de Oliveira Jobim, quando tinha oito anos de idade - Jorge Jobim, por sinal, estava separado ha´sete anos de dona Nilza, ou seja, desde o primeiro ano de vida do compositor).
   Foi uma decisão difícil, é verdade, mas é verdade também que toda a família o apoiava nas suas ligações com  música. O seu primeiro piano foi comprado por dona Nilza para a filha Helena, mas, ao notar que a irmã não se interessava tanto pelo instrumento, Tom Jobim tratou de se aproximar-se dele. E teve excelentes professores de música. Além de Koelleutter - uma lenda na história do ensino musical em nosso país -, teve como mestres Lúcia Branco, Tomás Teran e Paulo Silva. Mais tarde, desenvolveu os seus conhecimentos musicais com a orientação de nomes como Alceu Boquino, Radamés Gnattali, Lyrio Panicalli e Léo Peracchi. Além disso, contou com a ajuda de dois tios: João Lira madeira, matemático, presidente da sociedade de Astronomia e violonista clássico, e Marcelo Brasileiro de Almeida, violonista popular e cantor amador.
em 1952 foi chamado para trabalhar na gravadora Continetal, como assistente do maestro Radamés Gnattali, Além de dar assistência a Radamés Gnattali, Tom ocupava-se de passar para a pauta as melodias dos compositores que não sabiam escrever música. A sua estréia como compositor, porém, não foi na Continental, mas na Sinter, onde o cantor santista Maurici Moura gravou o samba-canção Incerteza, de Tom e Newton Mendonça. O disco saiu em abril de 1953, em 1954 a Continental lançou Teresa da praia, de Tom Jobim e Billy Blanco, em dezembro desse mesmo ano coube a Continental lançar o que seria a obra mais pretensiosa (até então) do nosso herói: Sinfonia do Rio de Janeiro, uma série de sambas, com letras de Billy Blanco, exaltando a cidade, através de 11 movimentos. Foi um marco na carreira de Tom Jombim e da própria Continental, que dava início à sua produção de long-play de dez polegadas, sendo  Sinfonia o terceiro lançamento da gravadora.
   Em 1955, Antonio Carlos Jobim já era um compositor procurado pelos cantores e uma das sua músicas - o samba - canção Se é por falta de adeus, parceria de Dolores Duran - foi considerada das melhores do ano. A interpretação ficou por conta de Dóris Monteiro. Ainda em 1955, firmava-se também como um dos arranjadores da continental, contemplada com com o prêmio de melhor gravação do ano, da revista Cigarra, com o samba-canção Eu e meu coração (Inaldo Vilarim e A. Botelho), gravado por Dóris Monteiro. O arranjo era de Tom. O seu trabalho como arranjador rendeu-lhe o segundo lugar (ao lado de Pixinguinha e de Renato de Oliveira) na relação dos melhores do ano, elaborada pelo crítico Ary Vasconcelos. Em primeiro lugar, empatados, ficaram Radamés Gnattali e Lyrio Panicalli. Naquele ano, passou a trabalhar ao lado de maestros como Oswado Borba, léo Peracchi e outros.
   Mas o que mudaria, definitivamente, a vida e Tom Jobim foi o seu encontro com o poeta Vinicius de Moraes, no bar Vilarino, no Centro do Rio de Janeiro, em meados de 1956. No Vil\rino, Vinicius comunicava aos companheiros de boêmia a sua preocupação por não ter ainda encontrado um músico para fazer a direção musical e criar as melodias da sua peça Orfeu da Conceição. Foi o crítico e historiador de nossa música popular Lúcio Rangel quem teve a idéia de conduzir Tom Jobim, sentado numa das mesas do Vilarino, à mesa de Vinicius de Moraes. Feita a apresentação, Vinicius passou a expor a sua idéia da peça - versão negra do mito grego de Orfeu, o divino músico de trácia.
Após ouvir tudo pacientemente Tom respondeu com uma pergunta: "Tem algum dinheiro nisso?" Lúcio Rangel convocou-o para um canto e observou: " Este é o poeta e diplomata Vinicius de Moraes! Como é que você tem coragem de falar em dinheiro numa hora dessas?" É que Lucio não sabia que Tom Jobim enfrentava dificuldades financeiras e "vivia correndo atrás do alugue".
   A pergunta, porém , não alterou a intenção de Vinicius de tê-lo como parceiro em Orfeu da Conceição. No dia seguinte, já estavam trabalhando na casa do poeta. Se todos fossem iguais a você foi a primeira música que ficou pronta. Em seguida, foram saindo Mulher sempre mulher, Um nome de mulher, Eu e meu amor e Lamento do morro. Tom também fez a harmonização da Valsa do Orfeu, letra e música de Vinicius de Moraes. A peça estreou no Teatro Municipal, com direção de Léo Jusi, cenários de Oscar Niemeyer,figurinos de Lila de Moraes, direção musical de Tom Jobim, regência de Léo Peracchi e um imenso elenco.
   Terminada  a temporada da peça, a dupla Tom Jobim - Vinicius de Moraes começou a trabalhar nas músicas da versão cinematográfica de Orfeu da Conceição, produção francesa de Sacha Gordine e direção de Marcel Camus. Entre as músicas feitas para o filme - vencedor do Festival de Cannes de 1959 - , estavam a samba A felicidade e O nosso amor. A vitória em cannes e o grande sucesso internacional do Orfeu contribuíram, sem dúvida, para o clima de euforia existente no Brasil, produzido pelo governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek de Juscelino Kubitschek. No campo da cultura, surgia o Cinema Novo e o teatro renovava-se com o aparecimento de novos autores, novas peças, novos atores, todos comprometidos com uma nova linguagem e com a discussão dos problemas brasileiros, no esporte foram varis as conquistas, como a da Copa do Mundo da Suécia, a de todas as competições internacionais de tênis pela paulista Maria Ester Bueno e a do título mundial de boxes obtido por Éder Jofre.
   Nesse clima surgiu a Bossa Nova. Foi o clímax de diversas tentativas de modernização da nossa música popular, feitas desde a divulgação da obra de Custódio Mesquita e que passaram pelo lançamento do samba-canção Copacabana, das músicas feitas por Garoto, Jony Alf, Valzinho e pelo próprio Antonio Carlos Jobim. O movimento explodiu quando a gravadora Odeon lançou, em julho de 1958, um disco de 78 rotações, contendo Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)  http://www.youtube.com/watch?v=guMek3_D6ls  e, do outro, Bim-bom (João Gilberto). Os arranjos eram do próprio Tom e o interprete o baiano João Gilberto que introduzia na música popular brasileira uma nova batida de violão e um estilo revolucionário de cantar nossas músicas. E foram as músicas cantadas por joão que iriam consolidar o movimento. Uma delas, foi Desafinado, de Tom Jobim e Newton Mendonça http://www.youtube.com/watch?v=n81JA6xSbcs, cuja letra dizia que "isso é bossa nova/Isso é muito natural".
   Estabelecia-se, assim, o trio de 'papas' da Bossa Nova, composto por João Gilberto, Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes. Outros nomes importantes no movimento foram o produtor Aloysio de Oliveira, a cantora Silvinha Telles e os compositores Carlos Lyra , Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Sérgio Ricardo, João Donato e vários outros.
   Em fins de 1960, a Odeon fez a primeira exportação da Bossa Nova para os EUA, mandou uma montagem de gravações de João Gilberto intitulada Brazil's brilliant. Em 1961, apresentou-se no Rio de Janeiro um importante grupo de músicos norte-americano de jazz que, gravou ao voltar para os Estados Unidos, gravou músicas da Bossa Nova. Eram eles Coleman Hawkins, Curtiss Fuller, Zoot Sims, Herbie Mann e outros. Nos Estados Unidos, Chales Byrd e Dizzy Gillespie gravavam bossa nova.Stan Getz fazia a famosa gravação de Desafinado http://www.youtube.com/watch?v=dxYNMO-PdHA&ob=av2n, com a qual vendeu mais de um milhão de exemplares. A música de Tom Jobim estourava nos EUA, país que só conheceu em novembro de 1962, quando integrou o grupo de brasileiros que se apresentou no Carnegie Hall.
   Tom permaneceu em Nova Iorque quase nove meses, período que foi considerado o melhor arranjador musical pela National Academy of  Recording Arts and Sciences, da qual recebeu o seu primeiro troféu internacional. O premio referia-se aos arranjos do disco de João Gilberto que a Odeon enviou para os EUA. Em maio, gravou o LP Antonio Carlos Jobim - the composer of Desafinado plays, com 12 músicas de sua autoria, entre as quais Garota de Ipanema, que, pouco depois, seria o maior suceso de música brasileira no exterior. O crítico Pete Welding, do Down Beat, atribuiu nota máxima ao disco - cinco estrelas - e lamentou não haver "mais estrelas para premia-lo".
   Pouco depois, outro disco chegava ás paradas norte-americanas; Getz, Gilbert - featuring  Antonio Carlos Jobim, que, em menos de um ano, vendeu mais de dois milhões de exemplares. O principal êxito do disco foi Garota de Ipanema (The girl from Ipanemahttp://www.youtube.com/watch?v=UJkxFhFRFDA, interpretado por por Astrud Gilberto. Os direitos autorais dessa música possibilitaram, finalmente, a Tom Jobim comprar uma casa, no Leblom, deixando, assim, de "correr atrás do aluguel".
   Em novembro de 1964, o compositor voltou aos estados Unidos e verificou que era uma figura muito popular no país. "Como se fosse um artista de cinema", escreveu Aloysio de Oliveira para a revista Manchete, "o nosso Tom Jobim é detido na rua para assinar autógrafos". Três aparições no programa de televisão de Andy Williams, exibido de costa a costa, contribuíram para essa popularidade de Tom. A Warner Brothes contatou-o para fazer dois discos com Nelson Riddle, o maestro de Frank Sinatra, mas fez apenas um. Depois, gravou A certain Mr. Jobim, com arranjos e regência de Claus Ogerman. Tom voltou para o Brasil e, dois anos depois da segunda viagem aos Estados Unidos, ele estava tomando chope, numa tarde de dezembro, no bar Veloso, em Ipanema, quando o telefone tocou e um garçom chamou-o. Era um telefonema dos Estados Unidos e, do outro lado, estava Ray Gilberto, o autor para o inglês de quase todas as músicas de Tom Jobim. Ray identificou-se e passou o telefonema para Frank Sinatra que foi logo dizendo: "Quero fazer um disco com você e desejo saber se acha uma idéia interessante."
   O LP Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim http://www.youtube.com/watch?v=mcMm4eDIAeg foi escolhido, por unanimidade, pela crítica especializada dos Estados Unidos como o álbum vocal do ano. Ganhou o Grammy. Foi um sucesso de crítica e de público, pois só perdeu em vendagem, em 1967, para o LP dos Beatles, Sgt. pepper's lonely Hearts Club Band. Em 1969, Sinatra convidou Tom Jobim para outro disco. A destacar, entre outras coisas, o fato de terem sido aqueles os únicos LPs que Frank Sinatra gravou, em toda a sua carreira, com um só autor. Levando-se em conta que o cantor fora o principal intérprete de compositores como Irving Berlin, Cole porte e johnny Mercer, a escolha do brasileiro Tom para a gravação de dois discos não deixa de ser um fato que honra a sua carreira.
   Um parceria de Tom Jobim e chico Buarque de Holanda, a bela canção Sabiá http://www.youtube.com/watch?v=SBXGkRBRGug , seria a grande vencedora do Festival Internacional da Canção de 1968. Em 1971, mais prêmios: a Coruja de ouro e o prêmio Instituto Nacional do Cinema pela trilha sonora do filme A casa assassinada, de Paulo César Sarraceni. Depois de gravar o LP Stone Flower, nos Estados Unidos, Tom lançou uma das suas obras-primas, Águas de março http://www.youtube.com/watch?v=srfP2JlH6ls, letra e música de sua autoria. "É uma daquelas músicas", escreve o excelente crítico norte americano Leonard Feather, "que exibem estrutura complicadíssima quando analisadas, mas que soam incrivelmente espontâneas e naturais quando ouvidas e sentidas."
   Tom Jobim casou-se pela segunda vez, em 1978, com Ana Beatriz e formou seu próprio conjunto musical, a Banda Nova, da qual fazem parte seus filhos mais velhos, Paulo e Beth, e sua mulher, Ana. Ganhou muitos prêmios e honrarias, no país e no exterior, como a Ordem do Rio branco e L 'Ordre de Grand Comandeur des Arts et des Lettres, da França, entre outros. Tem gravado vários discos, sempre tentando salvar o Brasil e sua gente, seus bichos e sua floresta. Nasceu ecólogo antes da palavra virar moda. E é ele, sem dúvida, o maior nome da música popular brasileira.

                                                               Por Sérgio Cabral


Fonte: Songbook Tom Jobim (Produzido por Almir Chediak)

Resumo: Teo Miro